29.9.13

Hora do faz de conta na casa dos segredos

Depois da vigilância às urnas, onde todos cumpriram a função (uns com ar de pedintes, outros com cara de embaraço, alguns, os habitués, com aura de conquistadores), na sala de reuniões da casa dos segredos juntam-se os concorrentes para a análise dos resultados. O momento da verdade está para chegar. É a hora do faz de conta. Ou do ajuste de contas...

Ora então, vamos lá às previsões - diz o chefe, eu aposto no 5 a 2…

- Ai isso é que era, diz o acólito n.º 2. Assim tínhamos o futuro garantido. Quem é que ia ligar à confusão das contas, ao PAEL?

Está a falar de quê? Fale na sua vez e quando chegar a sua vez, cala-se, ouviu? Bem basta as confusões que me tem arranjado... “a câmara enquanto candidata às eleições…” onde já se ouviu tamanha barbaridade. Nem eu com a minhas tiradas maoistas consegui ser tão gozado. Não fossem as inaugurações e queria ver onde íamos parar. E aquela, à última da hora, que nem ficou totalmente pronta, mas enfim… tive que lhe chamar visionário mas acabou por fazer um bom trabalho. Foi pena aquela traiçãozita…  
Mas qual é essa de ter o futuro garantido? Ah, o quinto?  É certinho. Até já pensei incluir nas futuras ordens de trabalho um ponto para o nosso 5 contar anedotas e entreter o público. Tome nota desta minha ideia, cara amiga. Ah você não fica?! Então quem me passa a escrever os discursos? Mesmo assim, anote para o dossier que vai passar ao seu sucessor. Que isto não pode ser como nas swaps. Quero tudo alinhadinho. Como a nossa fanfarra com as majoretes. E como  é, número 7, tudo pronto para a festa? Bombos, gaitas, balões e foguetes...? O palco já vi que está montado. Cavalos não, é melhor não meter os cavalos…  com um tempo destes e as ruas como rios ainda se afogavam … Por falar nisso, acorremos a tudo? Ninguém reclamou dos serviços? É para isso, que nós cá estamos. Podemos não prevenir, mas quando se trata de remediar, entramos nós para entusiasmar o povo…
Mas diga lá qual é a sua previsão?

 - Eu até me atrevia a sonhar com o 6 a 1.

Você cala-se, número 9, aqui os suplentes só entram quando eu mandar. E não sabe que dá azar sonhar tão alto? Daqui a pouco também estava a fazer força para entrar!… Ora, se metermos 5 eles já têm que nos roubar 2 para terem maioria. E com seis ficávamos sem oportunidade de gozar com a cara do vira-casaca… Por falar nisso, quem é o sexto?

- É a advogada, camarada. Desta vez os advogados são mais que as mães…

Primeiro, trate-me por presidente, se faz favor.  Depois, sempre lhe digo, que todos vão ser poucos para nos livrar das alhadas em que estamos metidos. Preferia antes professores de ginástica? Esses ainda fazem mais cagada e cabriolas que os cavalos.
E se quer a minha opinião até acho que a 6 até merecia ser eleita. Discreta e eficiente… Então não havia de conhecer?! Desta vez escolhi-os eu, a dedo para não azo a confusões… Prefiro-os ignaros do que chico-espertos. Sim, ignaros, nunca ouviu? Então escreva para não se esquecer. E ressabiados, já ouviu? Esses são os que mudaram para a outra lista. Já agora assente os nomes na lista negra, não se esqueça.
Continuando… Não pergunto à senhora, porque nisto de futebóis as mulheres não têm grande opinião, não é verdade, número 3?

- Pelo contrário, eu até gosto de um bom jogo de bola. A minha agenda é que não me permite tirar as tardes de domingo…

A sua agenda não lhe permite? Isto é serviço público. Vamos para onde temos que ir. Quantas vezes eu não tive que comparecer com os olhos como bugalhos. E aturar aqueles pedinchões, ainda por cima!… Digo-lhes sempre que sim e depois logo se vê. Assim se constroem grandes vitórias.
E desta vez a vitória será minha, só minha e não vai ser preciso ninguém para me sussurrar as palavras ao ouvido. Guri, estás dispensado! Até podes ir jogar sueca para o café.

Noutro quarto da casa, o assunto em discussão é o mesmo, as opiniões é que são um pouquinho diferentes. E a conversa é mais formal.

- Então que me diz? Sempre há ventos de mudança a soprar do lado de Santa Eulália” - pergunta o número 1.

É que não tenha dúvidas. Só se não houver coerência…Vamos ganhar e virar a página…tal como o CCD que se prepara para se afirmar como o maior clube do concelho… Não é para me gabar, mas a obra é toda minha, responde o n.º 2.

-Que obra? Ah sim, pois…Mas não acha que foi arriscado votar contra os subsídios?

Acha?! Onde já se viu conceder subsídios para pagar jantares?! O lacaio que se amanhe… que crave a massa aos amigos…. E depois, nem 1 euro para o meu clube?! Isso era impensável, presidente.

-Não me chame presidente que me desvaloriza. Mas não acha que as vezes é preciso alguma flexibilidade?

Nem pensar! Verticalidade e coerência, é que é! E afirmá-lo em público quanto mais vezes melhor. Soa bem e pouca gente sabe o que isso é.

-E as juntas?

As juntas? Nós estamos  falar de coisas mais importantes… Isto não é o distrital. Nós estamos na champions, presidente, como diz o Jesus.

-Já lhe disse para não me rebaixar… chame-me chefe ou doutor, se quiser…

Mas diga-me, não acha que a estratégia resultou? Chumbamos tudo e enganámo-los com a proposta de apresentar uma contraproposta…  Eles fiados e ficou toda a gente a ver navios. Nem um chavo para ninguém. Que paguem primeiro o que me devem senão como é que eu vou cumprir os compromissos?  Não posso contar com o porto na taça todos os anos…

-Se assim o diz…

Claro que digo. E com a carreira regular de autocarros que está prometida, encho o campo todos os fins de semana.

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E agora, quem ficará por cima? Quem rirá no fim? Quem abandona a casa? Quem fica? Quem entra de novo?



A Clarinha promete ir dando conta do “evoluir da situação” (como gostam de dizer os comentadores destas coisas)...

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